Poemas & Poetas indeléveis de 2021:
Baby Lou
27 de dezembro de 2021
seleção de José Couto
por Baby Lou
seleção de José Couto
por Baby Lou
Sim eu leio bukowski
E já fui intérprete de uma das mulheres
Que deram asas a seu pássaro
Azul
Já respirei seu hálito de whisky e cerveja
E feri o pé esquerdo em garrafas e copos
Quebrados
Ao sair da cama
Embriagada pela crueza do velho safado
Já fui chamada de jane ou lucy
Ou barbara
Ou linda ou frances
Como se ouvisse música que amansa demônios
E retornei o pé direito para dentro do quarto
Vestida de suas notas
Desejosa de que fossem sua pele
Sobre a minha arrepiada
Vi prelúdios de poemas na fumaça
Ou cinzas dos cigarros
E na bílis coloquialmente vomitada
Vi um plágio da proeza divina
De inventar o princípio de tudo
Ah se eu pudesse
Provocar um poema
Como quem se masturba
E naquilo
Que chamam de êxtase
Ressuscitar todos os corpos
Que morreram virgens
De poesia
Ó lorde
Que nos criaste a libido
Mal havia quitado meus barracos
Em sodoma e gomorra
Ateaste fogo
Sem sequer um prévio aviso
Minha terra
Tem as damas da noite
Que botam pra correr a puta
Que ousar roubar o ponto delas
Tem ponto por debaixo dos panos
Quando um tiozão
Paga por molequinhas virgens
E por menininhos também
Tem ponto g ignorado
Por trogloditas
Que trepam com suas fêmeas
Como se trepassem
Com uma boneca
Cismo que cismo à noite
Pra ter um pouco de tesão
Minha terra
Tem seringueiras sangradas
Pra preservativo virar balão
Minha terra
Não tem papas na língua
Desde que o tupi guarani
Perdeu o posto de língua mãe
As aves que aqui voejam
São depenadas no carnaval
Nosso céu de certeza
Só o da nossa boca
Porque contrato com deus
Só no regime celetista
Nossas matas quase mortas
Quase mortos nossos natos
Cismo que cismo à noite
Pra ter um pouco de tesão
Minha terra
Tem seringueiras sangradas
Pra preservativo virar balão
Não busco redenção
Em verbos retos
Sobre linhas tortas
Ou em fugas sinuosas
Sobre corpos eretos
Se o fim do túnel
Do meu sexo
Não foi abençoado
Para dar à luz
Tanto faz ter audácia
Ou pudor
Se faço de minhas
Faltas
Glórias lubrificadas
É certo que o equilíbrio
Cósmico
Já me consertou
..ih neném
Parece que ando fazendo
Poema-manifesto
Um amigo da literatura me disse
Sim poema-manifesto
É legal né
E tem gente que só vê
A sacanagem no que escrevo
Os pulsos latejando por corte
A jugular doida por ser vampirizada
Quem vê
Sim poema-manifesto
Manifesto por um prato de comida
No self service do pensamento livre
Moscas sentando na comida
A gente não sabendo se abana
Ou se come
Sim
Poema-manifesto
Manifesto a favor da prática livre
Do pecado da gula
Seu mindinho
Disse pro seu vizinho
Que o fura-bolo
Morre de inveja
Do maior de todos
Só porque é ele
Que arranca do tonho
Os gemidos mais gozosos
Sabe a mulherzinha
Tipo cadela fugida
De casa
Com coleira e correia
Atracada
Passeando livre
Pelos costumes
E pecado original
Com coleira e correia
Atracada
Provando com prazer
Do osso duro de roer
Com coleira e correia
Atracada
Antes de ser
Apanhada por seu dono
Nalgum beco sem saída
E levada de volta
À sua vidinha doméstica
Com coleira e correia
Atracada
Escrevo para mostrar
A essa mulherzinha
Que consigo ser
Uma cadela fugida
De casa
Bem sucedida
Sem coleira e correia
Atracada
Quanto me falta
Para sossegar
As veias de dragão
Vestir a pose
De viúva negra
E comer o amor
Cru
Antes que ele
Passe do ponto
VAZIO
É um espaço
Cheio do ar
De sua graça
Ele disse
De uma coisa
Eu tenho certeza
Baby Lou
Não vai para o céu
Mas não vou mesmo
O céu que venha
Até baby Lou
Não tivesse
Esse nome
Um céu
A vagina
Para se pôr
Em poemas
Arreganhada
Acolhendo
Reticências
Lacunas
Meias palavras
Não tivesse
Dor na memória
Um céu
A vagina
Descrente
De trovoadas
Maestrando
Os saltos
Imortais
Dos poetas
Não tivesse
A herança
Estigmata
Das encruzilhadas
Um céu
A vagina
Guiando
O amor cego
Dos bicos
Das penas
Minha poesia isso
Minha poesia aquilo
Tem poeta que fala
Desse jeito
Parece cachorro
Mijando em tudo
Que é canto
Pra se editar
O rei do pedaço
Esse tipo de poeta
Não passa é de corno
Que essa poesia
Que a gente diz
Que é da gente
É tipo puta
É patrimônio de todos
Eu
Que nunca soube
Do beijo
Senão a baba e a língua
Que nunca demorei meus olhos
Noutros olhos
Para não perder de vista
Meus pés descalços
Amando o chão em que pisam
Amo concretamente
Com direito a amar
Até os furos a prego
Em minhas paredes de nuvens
Não tenho um rosto
Pra maquiagem
Flashes
Caras e bicos
Nem boceta
Sou fêmea
Que só fode no poema
Quando morrer
Não terão uma foto
Pra mascarar a ignorância
Pelo que não é espelho
Tipo fazem com as putas
Sim
A vida me ama
E não quer ser
Chamada de puta
E me lambe
Se me vê suja
E me enrola
Na barra da saia
Se me ponho nua
A vida me chama
De baby
Me pega no colo
Mas é ela que mama
Nas minhas tetas
Eu a engordo
O suficiente
Pra que aguente
O meu peso
Meu bem
Confesso
Minha língua
Atrevida
Frequenta lugares
Tão impuros
Nem os queira
Imaginar
Mas tão casta
Se torna
Quando digo
Te amo
Vai tomar
No cu
Se não quiser
Acreditar
E já fui intérprete de uma das mulheres
Que deram asas a seu pássaro
Azul
Já respirei seu hálito de whisky e cerveja
E feri o pé esquerdo em garrafas e copos
Quebrados
Ao sair da cama
Embriagada pela crueza do velho safado
Já fui chamada de jane ou lucy
Ou barbara
Ou linda ou frances
Como se ouvisse música que amansa demônios
E retornei o pé direito para dentro do quarto
Vestida de suas notas
Desejosa de que fossem sua pele
Sobre a minha arrepiada
Vi prelúdios de poemas na fumaça
Ou cinzas dos cigarros
E na bílis coloquialmente vomitada
Vi um plágio da proeza divina
De inventar o princípio de tudo
Ah se eu pudesse
Provocar um poema
Como quem se masturba
E naquilo
Que chamam de êxtase
Ressuscitar todos os corpos
Que morreram virgens
De poesia
Ó lorde
Que nos criaste a libido
Mal havia quitado meus barracos
Em sodoma e gomorra
Ateaste fogo
Sem sequer um prévio aviso
Minha terra
Tem as damas da noite
Que botam pra correr a puta
Que ousar roubar o ponto delas
Tem ponto por debaixo dos panos
Quando um tiozão
Paga por molequinhas virgens
E por menininhos também
Tem ponto g ignorado
Por trogloditas
Que trepam com suas fêmeas
Como se trepassem
Com uma boneca
Cismo que cismo à noite
Pra ter um pouco de tesão
Minha terra
Tem seringueiras sangradas
Pra preservativo virar balão
Minha terra
Não tem papas na língua
Desde que o tupi guarani
Perdeu o posto de língua mãe
As aves que aqui voejam
São depenadas no carnaval
Nosso céu de certeza
Só o da nossa boca
Porque contrato com deus
Só no regime celetista
Nossas matas quase mortas
Quase mortos nossos natos
Cismo que cismo à noite
Pra ter um pouco de tesão
Minha terra
Tem seringueiras sangradas
Pra preservativo virar balão
Não busco redenção
Em verbos retos
Sobre linhas tortas
Ou em fugas sinuosas
Sobre corpos eretos
Se o fim do túnel
Do meu sexo
Não foi abençoado
Para dar à luz
Tanto faz ter audácia
Ou pudor
Se faço de minhas
Faltas
Glórias lubrificadas
É certo que o equilíbrio
Cósmico
Já me consertou
..ih neném
Parece que ando fazendo
Poema-manifesto
Um amigo da literatura me disse
Sim poema-manifesto
É legal né
E tem gente que só vê
A sacanagem no que escrevo
Os pulsos latejando por corte
A jugular doida por ser vampirizada
Quem vê
Sim poema-manifesto
Manifesto por um prato de comida
No self service do pensamento livre
Moscas sentando na comida
A gente não sabendo se abana
Ou se come
Sim
Poema-manifesto
Manifesto a favor da prática livre
Do pecado da gula
Seu mindinho
Disse pro seu vizinho
Que o fura-bolo
Morre de inveja
Do maior de todos
Só porque é ele
Que arranca do tonho
Os gemidos mais gozosos
Sabe a mulherzinha
Tipo cadela fugida
De casa
Com coleira e correia
Atracada
Passeando livre
Pelos costumes
E pecado original
Com coleira e correia
Atracada
Provando com prazer
Do osso duro de roer
Com coleira e correia
Atracada
Antes de ser
Apanhada por seu dono
Nalgum beco sem saída
E levada de volta
À sua vidinha doméstica
Com coleira e correia
Atracada
Escrevo para mostrar
A essa mulherzinha
Que consigo ser
Uma cadela fugida
De casa
Bem sucedida
Sem coleira e correia
Atracada
Quanto me falta
Para sossegar
As veias de dragão
Vestir a pose
De viúva negra
E comer o amor
Cru
Antes que ele
Passe do ponto
VAZIO
É um espaço
Cheio do ar
De sua graça
Ele disse
De uma coisa
Eu tenho certeza
Baby Lou
Não vai para o céu
Mas não vou mesmo
O céu que venha
Até baby Lou
Não tivesse
Esse nome
Um céu
A vagina
Para se pôr
Em poemas
Arreganhada
Acolhendo
Reticências
Lacunas
Meias palavras
Não tivesse
Dor na memória
Um céu
A vagina
Descrente
De trovoadas
Maestrando
Os saltos
Imortais
Dos poetas
Não tivesse
A herança
Estigmata
Das encruzilhadas
Um céu
A vagina
Guiando
O amor cego
Dos bicos
Das penas
Minha poesia isso
Minha poesia aquilo
Tem poeta que fala
Desse jeito
Parece cachorro
Mijando em tudo
Que é canto
Pra se editar
O rei do pedaço
Esse tipo de poeta
Não passa é de corno
Que essa poesia
Que a gente diz
Que é da gente
É tipo puta
É patrimônio de todos
Eu
Que nunca soube
Do beijo
Senão a baba e a língua
Que nunca demorei meus olhos
Noutros olhos
Para não perder de vista
Meus pés descalços
Amando o chão em que pisam
Amo concretamente
Com direito a amar
Até os furos a prego
Em minhas paredes de nuvens
Não tenho um rosto
Pra maquiagem
Flashes
Caras e bicos
Nem boceta
Sou fêmea
Que só fode no poema
Quando morrer
Não terão uma foto
Pra mascarar a ignorância
Pelo que não é espelho
Tipo fazem com as putas
Sim
A vida me ama
E não quer ser
Chamada de puta
E me lambe
Se me vê suja
E me enrola
Na barra da saia
Se me ponho nua
A vida me chama
De baby
Me pega no colo
Mas é ela que mama
Nas minhas tetas
Eu a engordo
O suficiente
Pra que aguente
O meu peso
Meu bem
Confesso
Minha língua
Atrevida
Frequenta lugares
Tão impuros
Nem os queira
Imaginar
Mas tão casta
Se torna
Quando digo
Te amo
Vai tomar
No cu
Se não quiser
Acreditar
José Couto (Porto Alegre/RS). Professor e poeta brasileiro. É o autor de “A impermanência da escrita” (2010), “O soneto de Pandora” (2017) e “O unicórnio do sul e outras lendas poéticas” com ilustrações de Luiza Maciel Nogueira (2018). E dos inéditos “quase quasares” poesia,”Sete Cânticos Negros”, poesia, arte plástica e música, TOTEM (poesias a quatro mãos) com arte de Artur Madruga.
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