Poemas & Poetas indeléveis de 2021:
Cristina Siqueira
28 de dezembro de 2021
seleção de José Couto
por Cristina Siqueira
seleção de José Couto
por Cristina Siqueira
PENSO E REPENSO…
Que existe na cabeça
uma engrenagem perfeita
uma fábrica de ideias
que faz voar as palavras
a espalhar pensamentos
e às vezes sentimentos
guardados com laço e nó
quando nasce uma ideia
ela se multiplica
até quase não ter fim
Se a cabeça fosse de vidro
como a bola de cristal
a gente veria o avesso
Onde as ideias se fazem
umas nascem brilhantes
outras não vingam na hora
E outras já nascem sem chance
de crescer e prosperar
Na cabeça mora a vida
do que é real ou ilusão
e a ideia é assim
Um estalo sem barulho
uma luz na escuridão
OFÍCIO DE VERSOS
Escrevo por divertimento
cavo horas vagas no tempo
avanço a madrugada
plantão em movimento
Escrevo à toa
de cio se faz o ócio
dispenso sócio
enlaço palavras
Contrato de advento
Escrevo as cores do sentimento
a sensação do arrepio
o tom grave do tormento
Trinco cristal com os dentes
incisivo agudo
quebro copos de contida ira
Faço saltar do decote
os seios que matam a sede
Escrevo a cicatriz
com que orno a coxa
a pausa dos dedos
que dançam
no triângulo das prendas
Escrevo o sabor da boca do rio
a água fresca ,sonho do estio
a mulher da vida
a lenda
Escrevo faltas ,excessos
pote de ouro vazio
cinza chumbo que desfez o arco íris
tristeza erma do pássaro baldio
Escrevo o velho como se fosse novo
com palavras gastas
Remendo a vida
Escrevo em grafite o que ainda tem jeito
com lápis de cor tinjo o dia sem flores
de azul marinho
a noite sem estrelas
Escrevo em desassombro
o corpo nu
risco pautas de sonora alegria
uso gliter nas partes que me tocam
onde vibro gemidos quietos
Explosivos em festa quente
Escrevo entre as nuvens
Com pés de fumaça
Escrevo entre os dentes o que é grave
e torto
a raiz do vício
o finito ardor do que jaz efêmero
Escrevo o amor
Em baile de sentimentos
o andor da santa
O calor nas veias
o vermelho tinto
Sangue ardente
deito na terra
viva semente
Escrevo a fartura
espelho de Oxum
a formosura
O palco sem ponto
onde o só brilha
o sol da existência
Escrevo a poesia
o teor etílico
do vinho nobre
das águas do poeta
seus mares revoltos
seus dedos de festa
POESIA
Reflexo no espelho
emergente
Um repente
no tom inexato
onde se colore de tempo
O espaço
Captura do longe
abraço no invisível
funda pedra adormecida
no leito do rio
Cor de vela derretida
aquarela esmaecida
Olhar de encanto
ou estupor.
Poesia é ação
Urgência
Revolução na paciência
e, contudo
ir sem pressa
Com olhos de ver através
MÁXIMO E MÍNIMO
Houve um tempo
de fragmentos da arte
devoção dos monges
fragmento de mísseis
escombros
a clamar seus donos
vírus da asfixia
um nada nas sombras
Sobras de humanidade
Houve um tempo
de águas pacientes
a germinar sementes do Amor
e de dramas tenebrosos
trazendo o desejo de provar o alívio da Paz
SEM PERDÃO
Rasgou o verbo
O verso
O papel ao meio
Rasgou o mar
A bandeira
Rasgou o vestido
a camisa dele
Rasgou a pele
em ira desfeita
Mas quando
rasgou dinheiro
Sentiu o peso
do desaforo
viu o coração no bolso
Partido em miúdos
e o sangue nos olhos
dele
desaguando inteiro
Crucifixou-se
SOU UMA E TODAS AS MULHERES
Sou a mão quentinha
do menino negro
magrinha de abandono
Sou a velhinha feliz
que encontrei no rio
com a saia levantada
e um cajado na mão
Sou este espírito livre
que passeia na alma da vida
sem fronteiras
sou todas as línguas dos homens
e meu talismã
é o amor possível no mundo
minha voz é dissonante
então não canto
entoo
intuo
e a ouço própria distinta de mim
sem pertencimento
uma massa plural de vozes
que me habita
Sou aquela que escapuliu para viver
livre da miséria
dos perdidos com as mãos nos bolsos
sou redenção
das mulheres que querem amar sem culpa
das mães cansadas
das mães plural
dos gestos de afeto do corpo viúvo
Sou o menino que a tudo quer saber
a menina tímida
que enrosca o cabelo nos dedos
Sou a que ouve aos outros
e a própria consciência
Sou sexo cru em momentos de casto sacrifício
fraternidade
generosa compaixão,
Arte dos dias
Sou estéreo
amplifico sentimentos
Sou a pedra linda
em beleza natural
que rolou
até se por sem arestas
virou cama de rio
amada pelo fluir ligeiro
das águas doces
que lhe embebem em versos
de fluida ternura
Sou o atabaque do terreiro
vibro ao toque rude e tosco das mãos negras
que me tornam em ritmo
Mas lamento
Não primo pela coerência
E vou...
POIS É… O POETA É
Aquele que tira ouro de pedra.
Que pega o touro à unha.
Que bateia no garimpo.
Em busca de uma pepita.
Parece nada...
É muito cascalho.
...então me traduza
como se fosse música
sons antes de palavras
pausas prolongadas
dedilhar
em graves e agudos
em si
eu lá menor
VISÍVEL AUSÊNCIA
O tempo se fecha
o baú da sala
as caixas se fecham
álbuns do tempo
Universo da família
em retirada
do desfile
Uma parada de anjos
O toque do nada
de energia pulsante
Na parede
os corpos, coisas
objetos, anima da casa
São presença
etérea, sagrada
impressas no corpo
da sala, quartos
cozinha, corredores,
Quintal
A sombra
da visível ausência
a vida do imaterial
no futuro que se movimenta no espaço
onde o longe
é infinitamente longe
A casa
exibe seu sentir oculto
abandonada pelo senhor
que por ali permanece em lembrança
sendo um anjo flutuante
fazendo vibrar em sua despedida
a presença absoluta de Deus
A televisão
traz notícias insignificantes
sem ligação alguma com a vida
o mundo é algo estranho
nos "ais " desta solidão
O submundo turvo e violento
não me pertence
mas está ali
onde plantamos as raízes sacrossantas
do mistério
junto ao hálito da morte
que bafeja nossos velhos
os queridos finaturos
sés gestos rituais
trôpegos
seus sentimentos depurados
afinados em ponta de luz
seres em metamorfose
a decrepitude a tornar-se Estrela
No firmamento escuro
os astros sem identificação
nossos velhos
em mudança
as coisas ficaram
onde a vida pulsa
E as paredes falam
o que ouviram dizer
no tempo do século
em que se fecha
uma vida
Peças antigas
Efêmero significado
a lembrança,
o esquecimento
Foi ontem
o hoje que passou
OLHO MÁGICO
O olho que a tudo vê
dimensiona em verde
a esperança
A figura de fundo
tem ares de liberdade
A arte seduz
olhos que contemplam
traços distintos
na célebre mão do artista
que do avesso
Traz a cor
da fantasia perfeita
toques de amor e dor
agudos e graves tons
espelho do humor
com que se mostra
em cada tela
a alma em aquarela
Seria simples
se fosse só um gesto do pincel
seria morna ou triste
rasa ou profunda
não fosse
a tempera que se imprime
em talhes de paixão
A força da transformação
pelo homem que se expressa
incontido
corajoso
Inspirado
Colorido
Sobre a trama
de sua sagrada alma
detalhes
concretizam com maestria
o talento que diz de si
Por si
Com suas mãos de encanto
AS COISAS
Bebeu devagar
o copo de nada
para não acabar depressa
As coisas dormem
no quarto
por décadas de não-existência
encerradas na tumba
dos afetos esquecidos
em seu destino de coisas
Desliza em si um suspiro de solidão
As rugas e seus cabelos brancos
lhes dizem durma
mas o olho do fantasma voyeur
à espreita no buraco da fechadura
lhe rouba o sono
A flor de veludo de centro negro
pistilos dourados
se oferece ao olhar
louca no resgate da beleza
em seus encantos
deusa à espera de ser admirada
Tenta um voo longo
descerrando a noite pela janela
Precisa do ar de menos coisas
um largo sorriso de lua
Estrelas estreiam o tempo em anos luz
flores vivas lhe embebem de perfume
Quer cintilações e magnetismo
menos elegância e olhares vivos
o que vê é a imagem do orgulho
desfigurado pelo tempo
o que luzia hoje é pó
espelho de saudade
a que as coisas se prestaram
um dia...
Toma um gole de alegria engarrafada
deseja impulso
um ato de amor à si
não consegue entender
a matéria que destrói a vida
o sufoco do excesso
a loucura do consumo
não exorcizado
Calça as botas
se enrola no cachecol colorido
e sai...
as coisas são simplesmente coisas
em sua permanência de durante.
EM HONRA DO AMOR
A única fala
pausa da contradição
Penas e desejos
fogueira de fé
copo lascivo
Corpo não suficiente
para a sede e fome
A alma não diz
da ruptura dos sonhos
Outro
Outro
Vestido, bolsa, marido
outro amor
outro par de sapatos novos
Poros inundados de origem
sabor do vácuo
as bocas de lábios nus
no diapasão do espírito
trilha escura
insondável
Inexprimível
ventre
Um gole de vinho português
sabor de terra onde se escreve o destino
sofrer sem lamúrias
na morte lograr o fim
Absorver com suavidade
palmas quentes
braços
de preguiça
deliciosa sutura
Em pele viva
rara travessia longa
o sal
As uvas
em Kama Sutra
línguas
Corpo que desliza no profundo
Onde se cose o gemer
sem dor
Amor
O mar com sol
Brilha!
Colhi um beijo na chuva
Pus no vaso
Virou flor
Que existe na cabeça
uma engrenagem perfeita
uma fábrica de ideias
que faz voar as palavras
a espalhar pensamentos
e às vezes sentimentos
guardados com laço e nó
quando nasce uma ideia
ela se multiplica
até quase não ter fim
Se a cabeça fosse de vidro
como a bola de cristal
a gente veria o avesso
Onde as ideias se fazem
umas nascem brilhantes
outras não vingam na hora
E outras já nascem sem chance
de crescer e prosperar
Na cabeça mora a vida
do que é real ou ilusão
e a ideia é assim
Um estalo sem barulho
uma luz na escuridão
OFÍCIO DE VERSOS
Escrevo por divertimento
cavo horas vagas no tempo
avanço a madrugada
plantão em movimento
Escrevo à toa
de cio se faz o ócio
dispenso sócio
enlaço palavras
Contrato de advento
Escrevo as cores do sentimento
a sensação do arrepio
o tom grave do tormento
Trinco cristal com os dentes
incisivo agudo
quebro copos de contida ira
Faço saltar do decote
os seios que matam a sede
Escrevo a cicatriz
com que orno a coxa
a pausa dos dedos
que dançam
no triângulo das prendas
Escrevo o sabor da boca do rio
a água fresca ,sonho do estio
a mulher da vida
a lenda
Escrevo faltas ,excessos
pote de ouro vazio
cinza chumbo que desfez o arco íris
tristeza erma do pássaro baldio
Escrevo o velho como se fosse novo
com palavras gastas
Remendo a vida
Escrevo em grafite o que ainda tem jeito
com lápis de cor tinjo o dia sem flores
de azul marinho
a noite sem estrelas
Escrevo em desassombro
o corpo nu
risco pautas de sonora alegria
uso gliter nas partes que me tocam
onde vibro gemidos quietos
Explosivos em festa quente
Escrevo entre as nuvens
Com pés de fumaça
Escrevo entre os dentes o que é grave
e torto
a raiz do vício
o finito ardor do que jaz efêmero
Escrevo o amor
Em baile de sentimentos
o andor da santa
O calor nas veias
o vermelho tinto
Sangue ardente
deito na terra
viva semente
Escrevo a fartura
espelho de Oxum
a formosura
O palco sem ponto
onde o só brilha
o sol da existência
Escrevo a poesia
o teor etílico
do vinho nobre
das águas do poeta
seus mares revoltos
seus dedos de festa
POESIA
Reflexo no espelho
emergente
Um repente
no tom inexato
onde se colore de tempo
O espaço
Captura do longe
abraço no invisível
funda pedra adormecida
no leito do rio
Cor de vela derretida
aquarela esmaecida
Olhar de encanto
ou estupor.
Poesia é ação
Urgência
Revolução na paciência
e, contudo
ir sem pressa
Com olhos de ver através
MÁXIMO E MÍNIMO
Houve um tempo
de fragmentos da arte
devoção dos monges
fragmento de mísseis
escombros
a clamar seus donos
vírus da asfixia
um nada nas sombras
Sobras de humanidade
Houve um tempo
de águas pacientes
a germinar sementes do Amor
e de dramas tenebrosos
trazendo o desejo de provar o alívio da Paz
SEM PERDÃO
Rasgou o verbo
O verso
O papel ao meio
Rasgou o mar
A bandeira
Rasgou o vestido
a camisa dele
Rasgou a pele
em ira desfeita
Mas quando
rasgou dinheiro
Sentiu o peso
do desaforo
viu o coração no bolso
Partido em miúdos
e o sangue nos olhos
dele
desaguando inteiro
Crucifixou-se
SOU UMA E TODAS AS MULHERES
Sou a mão quentinha
do menino negro
magrinha de abandono
Sou a velhinha feliz
que encontrei no rio
com a saia levantada
e um cajado na mão
Sou este espírito livre
que passeia na alma da vida
sem fronteiras
sou todas as línguas dos homens
e meu talismã
é o amor possível no mundo
minha voz é dissonante
então não canto
entoo
intuo
e a ouço própria distinta de mim
sem pertencimento
uma massa plural de vozes
que me habita
Sou aquela que escapuliu para viver
livre da miséria
dos perdidos com as mãos nos bolsos
sou redenção
das mulheres que querem amar sem culpa
das mães cansadas
das mães plural
dos gestos de afeto do corpo viúvo
Sou o menino que a tudo quer saber
a menina tímida
que enrosca o cabelo nos dedos
Sou a que ouve aos outros
e a própria consciência
Sou sexo cru em momentos de casto sacrifício
fraternidade
generosa compaixão,
Arte dos dias
Sou estéreo
amplifico sentimentos
Sou a pedra linda
em beleza natural
que rolou
até se por sem arestas
virou cama de rio
amada pelo fluir ligeiro
das águas doces
que lhe embebem em versos
de fluida ternura
Sou o atabaque do terreiro
vibro ao toque rude e tosco das mãos negras
que me tornam em ritmo
Mas lamento
Não primo pela coerência
E vou...
POIS É… O POETA É
Aquele que tira ouro de pedra.
Que pega o touro à unha.
Que bateia no garimpo.
Em busca de uma pepita.
Parece nada...
É muito cascalho.
...então me traduza
como se fosse música
sons antes de palavras
pausas prolongadas
dedilhar
em graves e agudos
em si
eu lá menor
VISÍVEL AUSÊNCIA
O tempo se fecha
o baú da sala
as caixas se fecham
álbuns do tempo
Universo da família
em retirada
do desfile
Uma parada de anjos
O toque do nada
de energia pulsante
Na parede
os corpos, coisas
objetos, anima da casa
São presença
etérea, sagrada
impressas no corpo
da sala, quartos
cozinha, corredores,
Quintal
A sombra
da visível ausência
a vida do imaterial
no futuro que se movimenta no espaço
onde o longe
é infinitamente longe
A casa
exibe seu sentir oculto
abandonada pelo senhor
que por ali permanece em lembrança
sendo um anjo flutuante
fazendo vibrar em sua despedida
a presença absoluta de Deus
A televisão
traz notícias insignificantes
sem ligação alguma com a vida
o mundo é algo estranho
nos "ais " desta solidão
O submundo turvo e violento
não me pertence
mas está ali
onde plantamos as raízes sacrossantas
do mistério
junto ao hálito da morte
que bafeja nossos velhos
os queridos finaturos
sés gestos rituais
trôpegos
seus sentimentos depurados
afinados em ponta de luz
seres em metamorfose
a decrepitude a tornar-se Estrela
No firmamento escuro
os astros sem identificação
nossos velhos
em mudança
as coisas ficaram
onde a vida pulsa
E as paredes falam
o que ouviram dizer
no tempo do século
em que se fecha
uma vida
Peças antigas
Efêmero significado
a lembrança,
o esquecimento
Foi ontem
o hoje que passou
OLHO MÁGICO
O olho que a tudo vê
dimensiona em verde
a esperança
A figura de fundo
tem ares de liberdade
A arte seduz
olhos que contemplam
traços distintos
na célebre mão do artista
que do avesso
Traz a cor
da fantasia perfeita
toques de amor e dor
agudos e graves tons
espelho do humor
com que se mostra
em cada tela
a alma em aquarela
Seria simples
se fosse só um gesto do pincel
seria morna ou triste
rasa ou profunda
não fosse
a tempera que se imprime
em talhes de paixão
A força da transformação
pelo homem que se expressa
incontido
corajoso
Inspirado
Colorido
Sobre a trama
de sua sagrada alma
detalhes
concretizam com maestria
o talento que diz de si
Por si
Com suas mãos de encanto
AS COISAS
Bebeu devagar
o copo de nada
para não acabar depressa
As coisas dormem
no quarto
por décadas de não-existência
encerradas na tumba
dos afetos esquecidos
em seu destino de coisas
Desliza em si um suspiro de solidão
As rugas e seus cabelos brancos
lhes dizem durma
mas o olho do fantasma voyeur
à espreita no buraco da fechadura
lhe rouba o sono
A flor de veludo de centro negro
pistilos dourados
se oferece ao olhar
louca no resgate da beleza
em seus encantos
deusa à espera de ser admirada
Tenta um voo longo
descerrando a noite pela janela
Precisa do ar de menos coisas
um largo sorriso de lua
Estrelas estreiam o tempo em anos luz
flores vivas lhe embebem de perfume
Quer cintilações e magnetismo
menos elegância e olhares vivos
o que vê é a imagem do orgulho
desfigurado pelo tempo
o que luzia hoje é pó
espelho de saudade
a que as coisas se prestaram
um dia...
Toma um gole de alegria engarrafada
deseja impulso
um ato de amor à si
não consegue entender
a matéria que destrói a vida
o sufoco do excesso
a loucura do consumo
não exorcizado
Calça as botas
se enrola no cachecol colorido
e sai...
as coisas são simplesmente coisas
em sua permanência de durante.
EM HONRA DO AMOR
A única fala
pausa da contradição
Penas e desejos
fogueira de fé
copo lascivo
Corpo não suficiente
para a sede e fome
A alma não diz
da ruptura dos sonhos
Outro
Outro
Vestido, bolsa, marido
outro amor
outro par de sapatos novos
Poros inundados de origem
sabor do vácuo
as bocas de lábios nus
no diapasão do espírito
trilha escura
insondável
Inexprimível
ventre
Um gole de vinho português
sabor de terra onde se escreve o destino
sofrer sem lamúrias
na morte lograr o fim
Absorver com suavidade
palmas quentes
braços
de preguiça
deliciosa sutura
Em pele viva
rara travessia longa
o sal
As uvas
em Kama Sutra
línguas
Corpo que desliza no profundo
Onde se cose o gemer
sem dor
Amor
O mar com sol
Brilha!
Colhi um beijo na chuva
Pus no vaso
Virou flor
Cristina Siqueira é escritora, poeta, artista e educadora. Dinamizadora cultural. Articulista do jornal O Progresso de Tatuí. Autora do Projeto Livro de Rua realizado com a lei Rouanet de incentivo à cultura. Obras publicadas: livros de poemas: "Papel", "A Carne da noz", "Prisma" e o CD Se houvesse amor a vida seria carícia. Publicações em revistas e jornais. Performances em teatro.
|
José Couto (Porto Alegre/RS). Professor e poeta brasileiro. É o autor de “A impermanência da escrita” (2010), “O soneto de Pandora” (2017) e “O unicórnio do sul e outras lendas poéticas” com ilustrações de Luiza Maciel Nogueira (2018). E dos inéditos “quase quasares” poesia,”Sete Cânticos Negros”, poesia, arte plástica e música, TOTEM (poesias a quatro mãos) com arte de Artur Madruga.
|