Quatro poemas de Gabriele Rosa
16 de abril de 2022
Seleção João Gomes
Seleção João Gomes
portal
lavanda semeada em poros adormecidos. Colheita. há tempos não te sonhas. Ronco melódico atravessa quarto e corpo e tela de proteção. Queda. Margem talhada em plástico bolha. Renda, rasgo, rio. enlameados a distância. Fome de chão. mangue desperto. coxas encharcam a cama, avessos inundam concreto antigo. Caminhos medulares gozam lagunas oleosas. As marés são futuros que engolem os pés à queima-roupa. Como desapaixonar pulmões? Mergulho em ruínas. olhos nublados, pescoço submerso. lua-caranguejo prenhe de sonhos fartos dança céu de janeiro. O grande benéfico está em casa: salte. Risquei teu nome entre os galhos. Na palma da mão, lágrima represada. O gosto da noite na língua, o substantivo abafado na beira da chave. destrancado, teus ouvidos silenciosos enxugaram as águas do teto.
comprei uma moringa feita de
barro enfeitada de porcelana amarela
para ter água fresca sempre
ao alcance das mãos
há um ano ela me observa
com sede
aprendi bordado quando
pequena observando
minha vó tecer as palavras
que engolia
sozinha solar saudade
era comum esbarrar com a voz dela
nos panos de prato
mocinho
ele devorou mundo. muso do ecrã. uma mistura de mar aberto com mergulho profundo, um tipo de azul com sete letras. pantagruélico domiciliado na casa oito. abriu meu apetite. manhãs de ocitocina. todas as cartas na mesa. leveza. aprecio fantasmagorias. deglutir. ser deglutido. suas pequenas saliências na superfície da língua, rizomas vascularizados em palavras-poema. o travesseiro escuta os meus sonhos. delirante. espelhos e vestígios e nuvens, ocasos de ciberdilúvio. beijos de coluna vertebral, cartografia das poças auráticas. mãos ágeis. unhas pintadas, excita? cafés infinitos. bússola de não-lugares. lambidinhas imaginárias. cupido exonerado, encontros na fenda. domingo é dia de feijoada. corpo em processo de cura: exposto. atenta. eu divido o meu lanche com você. a pá está no meu quintal. posso entrar? coxas que moem tecidos. mamilos e escápula e tornozelos. convivo com março. já é Natal? o riso é fácil no labirinto de figurinhas. como costurar memórias em full HD? essa semana não comprei flores. moleskine em branco. menino-mutável. menina-fixa. gato malhado, andorinha sinhá. mocinhos-terra. arrepiei com dez decibéis.
lavanda semeada em poros adormecidos. Colheita. há tempos não te sonhas. Ronco melódico atravessa quarto e corpo e tela de proteção. Queda. Margem talhada em plástico bolha. Renda, rasgo, rio. enlameados a distância. Fome de chão. mangue desperto. coxas encharcam a cama, avessos inundam concreto antigo. Caminhos medulares gozam lagunas oleosas. As marés são futuros que engolem os pés à queima-roupa. Como desapaixonar pulmões? Mergulho em ruínas. olhos nublados, pescoço submerso. lua-caranguejo prenhe de sonhos fartos dança céu de janeiro. O grande benéfico está em casa: salte. Risquei teu nome entre os galhos. Na palma da mão, lágrima represada. O gosto da noite na língua, o substantivo abafado na beira da chave. destrancado, teus ouvidos silenciosos enxugaram as águas do teto.
comprei uma moringa feita de
barro enfeitada de porcelana amarela
para ter água fresca sempre
ao alcance das mãos
há um ano ela me observa
com sede
aprendi bordado quando
pequena observando
minha vó tecer as palavras
que engolia
sozinha solar saudade
era comum esbarrar com a voz dela
nos panos de prato
mocinho
ele devorou mundo. muso do ecrã. uma mistura de mar aberto com mergulho profundo, um tipo de azul com sete letras. pantagruélico domiciliado na casa oito. abriu meu apetite. manhãs de ocitocina. todas as cartas na mesa. leveza. aprecio fantasmagorias. deglutir. ser deglutido. suas pequenas saliências na superfície da língua, rizomas vascularizados em palavras-poema. o travesseiro escuta os meus sonhos. delirante. espelhos e vestígios e nuvens, ocasos de ciberdilúvio. beijos de coluna vertebral, cartografia das poças auráticas. mãos ágeis. unhas pintadas, excita? cafés infinitos. bússola de não-lugares. lambidinhas imaginárias. cupido exonerado, encontros na fenda. domingo é dia de feijoada. corpo em processo de cura: exposto. atenta. eu divido o meu lanche com você. a pá está no meu quintal. posso entrar? coxas que moem tecidos. mamilos e escápula e tornozelos. convivo com março. já é Natal? o riso é fácil no labirinto de figurinhas. como costurar memórias em full HD? essa semana não comprei flores. moleskine em branco. menino-mutável. menina-fixa. gato malhado, andorinha sinhá. mocinhos-terra. arrepiei com dez decibéis.