A poesia underground de Hugo
Guimarães em 10 poemas
05 de janeiro de 2022
por Hugo Guimarães
por Hugo Guimarães
01.
Uma tarde de sol
Para eu me jogar da roda gigante
02. “Elegia 31 de agosto de 2015”
Por que estou aqui?
Estou aqui já que você também está aqui e deus:
Como está aí embaixo, pedaço de lixo? E eu:
Bem, até; 31 graus sem nuvens
03. “Elegia 30 de janeiro de 2014"
Eu nasci assustada
Então já comecei a morrer
Ganhei dentes
E unhas para
Bater bem de frente com a morte
O mundo nunca parou de diminuir e a morte nunca parou de crescer Até que eu parei de crescer
04.
Eu passo duas camisas
Uma vermelha e uma azul
Uso terças e quintas a azul
E segundas e quartas a vermelha
Sempre a calça preta
Sexta-feira, eu visto só preto
Sábado eu queimo as roupas
A camisa azul e a vermelha
E a calça preta
II
Por mais que tomasse banho
Todos os dias
Eu estava ainda sujo Por isso passei a deixar de tomar banho Um dia ou dois
05. “Clube da lua”
Quando eu morrer
Vou puxar seu pé de noite
Vou chupar seu rabo de noite
06.
Tatuar ‘Esqueça-o’
No pulso
É lembrá-lo
Esqueça-o
07.
Em um trem, alguém usando roupas que não condizem com o clima, diz:
“Eu odeio meu pai”
Em uma convenção de moda, há alguém tirando pelos brancos de uma camisa azul, dizendo:
“Eu odeio dizer bom dia”
08. “Vinil"
Essa mente horrível
É o buraco do vinil
Esse corpo horrível
Essa cama horrível
Expande-se até
A borda do vinil
09. “Os cabelos, o pau e a vara”
Os cabelos:
Não para de crescer cabelos na sua cabeça
Para esconder seu rosto
Para esconder seu rosto redondo
Eu ainda estou careca, e esses cabelos
Me acompanham
O pau:
Em uma ilha perdida
Há no lugar de uma palmeira
Um pau gigante com muita pele
E não é como um de sebo, que te derruba
Mas um que te gruda para masturbá-lo
Para sempre
A vara:
Você tem um corpo perfeito de um atleta.
Todos os dias você vem correndo
Com sua vara que te joga para cima
Mas chega uma hora em que a vara
Vira giz e não enverga
E quebra polegada por polegada
10. “Eu”
Meço o mesmo
Que uma ogiva nuclear W87
Mas já não pulei de um avião como deveria
Meu pênis
Se parece com um Cadilac azul
Mas ele já não entrou para a história como deveria
Há algo
Dentro de mim que me faz rir
E já não é uma carma-infecção como deveria
Uma tarde de sol
Para eu me jogar da roda gigante
02. “Elegia 31 de agosto de 2015”
Por que estou aqui?
Estou aqui já que você também está aqui e deus:
Como está aí embaixo, pedaço de lixo? E eu:
Bem, até; 31 graus sem nuvens
03. “Elegia 30 de janeiro de 2014"
Eu nasci assustada
Então já comecei a morrer
Ganhei dentes
E unhas para
Bater bem de frente com a morte
O mundo nunca parou de diminuir e a morte nunca parou de crescer Até que eu parei de crescer
04.
Eu passo duas camisas
Uma vermelha e uma azul
Uso terças e quintas a azul
E segundas e quartas a vermelha
Sempre a calça preta
Sexta-feira, eu visto só preto
Sábado eu queimo as roupas
A camisa azul e a vermelha
E a calça preta
II
Por mais que tomasse banho
Todos os dias
Eu estava ainda sujo Por isso passei a deixar de tomar banho Um dia ou dois
05. “Clube da lua”
Quando eu morrer
Vou puxar seu pé de noite
Vou chupar seu rabo de noite
06.
Tatuar ‘Esqueça-o’
No pulso
É lembrá-lo
Esqueça-o
07.
Em um trem, alguém usando roupas que não condizem com o clima, diz:
“Eu odeio meu pai”
Em uma convenção de moda, há alguém tirando pelos brancos de uma camisa azul, dizendo:
“Eu odeio dizer bom dia”
08. “Vinil"
Essa mente horrível
É o buraco do vinil
Esse corpo horrível
Essa cama horrível
Expande-se até
A borda do vinil
09. “Os cabelos, o pau e a vara”
Os cabelos:
Não para de crescer cabelos na sua cabeça
Para esconder seu rosto
Para esconder seu rosto redondo
Eu ainda estou careca, e esses cabelos
Me acompanham
O pau:
Em uma ilha perdida
Há no lugar de uma palmeira
Um pau gigante com muita pele
E não é como um de sebo, que te derruba
Mas um que te gruda para masturbá-lo
Para sempre
A vara:
Você tem um corpo perfeito de um atleta.
Todos os dias você vem correndo
Com sua vara que te joga para cima
Mas chega uma hora em que a vara
Vira giz e não enverga
E quebra polegada por polegada
10. “Eu”
Meço o mesmo
Que uma ogiva nuclear W87
Mas já não pulei de um avião como deveria
Meu pênis
Se parece com um Cadilac azul
Mas ele já não entrou para a história como deveria
Há algo
Dentro de mim que me faz rir
E já não é uma carma-infecção como deveria
Hugo Guimarães é um escritor prolífico paulista. Publicou o livro de poemas Poesia gay underground: história e glória (Ed. Annablume, 2008), o livro de contos O Estranho mundo de Hugo Guimarães (Ed. Edith, 2013), o romance O Tiro de um milhão de anos (Ed. Pasavento, 2015) ganhador do proAC em 2014 e o romance Igor na Chuva (Ed. Folhas de Relva, 2019) menção honrosa no prêmio programa nascente da USP em 2017. Cursa letras na FFLCH-USP, mantém no ar desde 2010 o blog www.hugoguimaraesnoceu.blogspot.com.br. Eventualmente ministra palestras e participa de mesas sobre literatura alternativa, literatura fantástica, literatura catástrofe, literatura lgbt e literatura regional.
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