Três poemas de Luis Guilherme Libório
17 de janeiro de 2022
por Luis Guilherme Libório
por Luis Guilherme Libório
NUM VOO DE GATO
para Berliouse;
meu eterno companheiro de vida e alma
ascendeste
no décimo primeiro degrau
do teu terceiro ano
Amparado
(num tapete mágico que lhe era de
grande agrado)
uma terceira idade
-- quase eclipsada
num terceiro dia
na data dois do oitavo mês
de um ano confuso
deixas um afogamento sem fim
o mar salgado que verte
Por saudade
por culpa
por dor
por ti
Me despertando
Para um último adeus
Elucidando a mente e o coração
Que adormecem confusos
Tu
que personificaste
e se encaixou num espaço
inteiramente teu
Onde me acompanhou por
casas lugares cidades
ocupas uma parte que levas
e outra que deixas como memória afetuosa
Lembrança de tua pele
teu pelo
Teu nome
saído de um desenho animado
que tanto me era visto
Nosso encontro carinhoso de felino
devidamente sorrateiro como tudo o que fazias quando não estavas em vista
e que parte
agora que partes
despedaçando e desmoronando o que em mim
é eterno teu
INTUIÇÃO (UM DIA CHUVOSO)
Nunca foi necessário cruzar longas distâncias
Mas eis que chegamos a este sôfrego e imutável impasse
ruas curtas que separavam
casas / segredos / pessoas / verdades
e um encontro por dois escondidos de um
-- nem todas as feridas estão a mostra
mas ainda assim permanecem lá; existentes-
Aquela frase dita abruptamente
entregou mais do que pretendia
e ainda ressoa firme e viva no subconsciente
nunca estivemos tão vulneráveis
e entregues aos medos e desejos que nos rodeiam
— “eu tô com uma pessoa.”
Há quem acredite na infinidade das amizades
e há quem as coloque em jogo
como conosco fizeram
como fizemos com nós
eu não sabia lidar com sentimentos
eu não sabia lidar
com os meus sentimentos
eu não sabia me dar
e tudo foi ficando confuso
Obscuro; distante
e nós fizemos parte disto
Por mais que fosse esperado
tudo foi despejado
como um turbilhão de água fria
jogado contra um corpo até então quente
forte / vivo / inabalável
— coisa que eu já não era mais
FOI COMO DEIXAR ESCAPAR PELA BOCA O QUE JÁ TRANSBORDARA O CORAÇÃO
É como regressar para
a rotina das horas contínuas
que agora tornaram-se estranhas
foi como apaixonar-se à primeira vista
de olhos fechados
e esperar uma hora para embarcar
ou
um ano para poder te amar
(é conhecer muitos lugares
&
Só almejar viver em um)
— foi como deixar escapar pela boca o que já transbordara o coração
Ser chamado de poeta
e só saber escrever sobre você
sem entender
que distância exige presença
ao perceber que saudade
resulta em carência
É como ter-te (pertencer-te)
e ao mesmo tempo
ver escapando por entre os dedos
Mas me resta esperar
a chama dos dias vindouros
e ansiar que me chames
para enfim
fazer fogueira de altar
para Berliouse;
meu eterno companheiro de vida e alma
ascendeste
no décimo primeiro degrau
do teu terceiro ano
Amparado
(num tapete mágico que lhe era de
grande agrado)
uma terceira idade
-- quase eclipsada
num terceiro dia
na data dois do oitavo mês
de um ano confuso
deixas um afogamento sem fim
o mar salgado que verte
Por saudade
por culpa
por dor
por ti
Me despertando
Para um último adeus
Elucidando a mente e o coração
Que adormecem confusos
Tu
que personificaste
e se encaixou num espaço
inteiramente teu
Onde me acompanhou por
casas lugares cidades
ocupas uma parte que levas
e outra que deixas como memória afetuosa
Lembrança de tua pele
teu pelo
Teu nome
saído de um desenho animado
que tanto me era visto
Nosso encontro carinhoso de felino
devidamente sorrateiro como tudo o que fazias quando não estavas em vista
e que parte
agora que partes
despedaçando e desmoronando o que em mim
é eterno teu
INTUIÇÃO (UM DIA CHUVOSO)
Nunca foi necessário cruzar longas distâncias
Mas eis que chegamos a este sôfrego e imutável impasse
ruas curtas que separavam
casas / segredos / pessoas / verdades
e um encontro por dois escondidos de um
-- nem todas as feridas estão a mostra
mas ainda assim permanecem lá; existentes-
Aquela frase dita abruptamente
entregou mais do que pretendia
e ainda ressoa firme e viva no subconsciente
nunca estivemos tão vulneráveis
e entregues aos medos e desejos que nos rodeiam
— “eu tô com uma pessoa.”
Há quem acredite na infinidade das amizades
e há quem as coloque em jogo
como conosco fizeram
como fizemos com nós
eu não sabia lidar com sentimentos
eu não sabia lidar
com os meus sentimentos
eu não sabia me dar
e tudo foi ficando confuso
Obscuro; distante
e nós fizemos parte disto
Por mais que fosse esperado
tudo foi despejado
como um turbilhão de água fria
jogado contra um corpo até então quente
forte / vivo / inabalável
— coisa que eu já não era mais
FOI COMO DEIXAR ESCAPAR PELA BOCA O QUE JÁ TRANSBORDARA O CORAÇÃO
É como regressar para
a rotina das horas contínuas
que agora tornaram-se estranhas
foi como apaixonar-se à primeira vista
de olhos fechados
e esperar uma hora para embarcar
ou
um ano para poder te amar
(é conhecer muitos lugares
&
Só almejar viver em um)
— foi como deixar escapar pela boca o que já transbordara o coração
Ser chamado de poeta
e só saber escrever sobre você
sem entender
que distância exige presença
ao perceber que saudade
resulta em carência
É como ter-te (pertencer-te)
e ao mesmo tempo
ver escapando por entre os dedos
Mas me resta esperar
a chama dos dias vindouros
e ansiar que me chames
para enfim
fazer fogueira de altar
Luis Guilherme Libório nasceu na Terra da Garroa, São Paulo, entre a primavera e o verão de 1995. Radicado em Pernambuco onde vive desde o verão de 2002. Autor do livro PERGAMINÁCEO (Editora Penalux, 2020), já participou de diversas antologias antes do seu voo solo. Atualmente reside em Garanhuns-PE onde estuda, trabalha e se dedica a arte incansável e descomunal das letras.
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