Clube Autores Secretos sorteará Nossos ossos, primeiro romance de Marcelino Freire
05 de janeiro de 2022
por Vida Secreta
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Para concorrer ao primeiro romance de Marcelino Freire é preciso assinar a revista Vida Secreta, que tem como recompensa o clube Autores Secretos. O apoio/assinatura pode durar o tempo que quiser, e enquanto isso Vida Secreta sorteia livros, produz o podcast, o site e edita autores em mais um número de sua revista digital.
Meu nome é Heleno. Sou dramaturgo, protagonista deste prosa longa, primeiro romance de Marcelino Freire, e tenho um corpo morto de um michê para entregar ao seu pai e à sua mãe, mas não sei quem são e nem onde estão. Tudo porque nada escapa ao teatro. As coisas todas vêm ao palco e ficam aqui para sempre. Cheguei em São Paulo por causa de Carlos, meu primeiro amor, e para escrever peças, encantar plateias, “revelar esse mundo e inventar outros”. Para curar doenças, sofrer, amar, ser feliz, ser normal, ser outro, sempre outro narrando também a melancolia da infância, os restos mortais de tudo o que foi falado em minha casa e os fósseis que eu achava em meu quintal. Ah, se não fossem o público, os diretores, os jornalistas, os atores, os preparadores de elenco, os produtores, os outros nordestinos da técnica, eu não poderia fazer cara de necrotério, essa cara de forte, cara de rico, cara de vingança e cara de nada quando fico representando só para mim. E aí vêm meu amor pelo boy, Lourenço me levando para ser “enterrado no coração de meu pai”, o carinho por Picasso, a sinceridade arisca do michê, os seios de Estrela, o porteiro, o assassinato, o bancário, os outros michês, a fábrica de dominó, meus nove irmãos, o delegado, o IML, o cara do táxi no ir-e-vir dessa narrativa que Freire inventou. A malandragem paulistana. As pessoas da noite. As padarias... O teatro para mim era besteira d’alma, eram as brincadeiras vespertinas de criança, a cruz da interpretação, era a lembrança de minha mãe (todas as personagens que eu inventei são ela). Nesta vida, amei os aplausos, as viagens, as críticas de elogio, o sexo de curiosidade com os artistas bem-sucedidos, as metidas de rua, adorei foder gostoso atrás dos fliperamas. Eu amei de tudo e vou continuar amando. Heleno de Gusmão, em depoimento ditado para Paulo Lins.
Meu nome é Heleno. Sou dramaturgo, protagonista deste prosa longa, primeiro romance de Marcelino Freire, e tenho um corpo morto de um michê para entregar ao seu pai e à sua mãe, mas não sei quem são e nem onde estão. Tudo porque nada escapa ao teatro. As coisas todas vêm ao palco e ficam aqui para sempre. Cheguei em São Paulo por causa de Carlos, meu primeiro amor, e para escrever peças, encantar plateias, “revelar esse mundo e inventar outros”. Para curar doenças, sofrer, amar, ser feliz, ser normal, ser outro, sempre outro narrando também a melancolia da infância, os restos mortais de tudo o que foi falado em minha casa e os fósseis que eu achava em meu quintal. Ah, se não fossem o público, os diretores, os jornalistas, os atores, os preparadores de elenco, os produtores, os outros nordestinos da técnica, eu não poderia fazer cara de necrotério, essa cara de forte, cara de rico, cara de vingança e cara de nada quando fico representando só para mim. E aí vêm meu amor pelo boy, Lourenço me levando para ser “enterrado no coração de meu pai”, o carinho por Picasso, a sinceridade arisca do michê, os seios de Estrela, o porteiro, o assassinato, o bancário, os outros michês, a fábrica de dominó, meus nove irmãos, o delegado, o IML, o cara do táxi no ir-e-vir dessa narrativa que Freire inventou. A malandragem paulistana. As pessoas da noite. As padarias... O teatro para mim era besteira d’alma, eram as brincadeiras vespertinas de criança, a cruz da interpretação, era a lembrança de minha mãe (todas as personagens que eu inventei são ela). Nesta vida, amei os aplausos, as viagens, as críticas de elogio, o sexo de curiosidade com os artistas bem-sucedidos, as metidas de rua, adorei foder gostoso atrás dos fliperamas. Eu amei de tudo e vou continuar amando. Heleno de Gusmão, em depoimento ditado para Paulo Lins.
Marcelino Freire nasceu em 1967, em Sertânia, Pernambuco. Desde 1991, vive em São Paulo. Em 2021, ano de comemoração dos 90 anos da José Olympio, foi convidado pela editora para organizar uma seleção com seus melhores contos: daí, nasceu sua Seleta: Por pior que pareça. Freire também idealizou e organizou a antologia Os cem menores contos brasileiros do século. Muitos de seus textos foram adaptados para teatro. Participou de várias antologias no Brasil e no exterior. Contos negreiros foi publicado na Argentina e no México. Criou a Balada Literária, que acontece em São Paulo desde 2006, com edições em Teresina (desde 2017) e Salvador (desde 2015). Em 2013, publicou seu primeiro romance, Nossos ossos (Record - vencedor do Prêmio Machado de Assis), publicado também na Argentina, na França e em Portugal. Seu livro mais recente é Ossos do ofídio, com o qual inaugurou a Baladeyra, 2021. Coordena oficinas de criação literária desde o ano de 2003. Encontre-o nas redes: @marcelino_freire_escritor.